Rui Curado Silva: “[...] o excesso de confiança estende-se às sociedades mais abertas, sobretudo quando a lógica de mercado é aplicada aos programas nucleares civis, como adverte Georges Charpak (Nobel da Física e um dos responsáveis do programa nuclear francês) no livro ‘De Tchernobyl en tchernobyls’, Odile Jacob, 2005. O acidente de 1999 em Tokaimura no Japão ocorreu porque a lógica do lucro de uma empresa privada se sobrepôs às regras mais elementares de segurança [...].
A opção de construção de 55 reatores no arquipélago japonês, em permanente risco sísmico, insere-se na mesma lógica de lucro que se sobrepõe à segurança. Não é de estranhar a revelação feita pela Wikileaks, divulgada no Daily Telegraph, de que um dos responsáveis da Agência Internacional de Energia Atómica teria advertido em 2008 o governo japonês para o risco de fortes sismos poderem pôr em causa a segurança das centrais japonesas. A central de Fukushima foi desenhada para resistir a sismos de escala 7, o sismo da passada sexta atingiu o grau 8,9. Aliás têm-se alimentado muitos fantasmas sobre as virtudes da organização da sociedade japonesa, mas a realidade é que o Japão apresenta um dos piores registos de acidentes graves na indústria nuclear.
[...] E como os acidentes da indústria nuclear são potencialmente muito mais perigosos e muito mais caros de remediar, na hora de tomar decisões deve-se oferecer às populações toda a informação disponível, deve-se usar da máxima transparência. Claramente não foi isso que aconteceu no Japão.”
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