16.6.10
Partidos-geléia
O jornalista Rudolfo Lago, editor-executivo do sítio Congresso em Foco, em sua coluna de 15 de junho de 2010, intitulada “Uma surra no passado”, faz uma interessante análise sobre a incoerência e a inconsistência ideológica nas coligações das consideradas três principais candidaturas à Presidência da República do Brasil: “Em todas elas, há arranjos eleitoreiros que podem mesmo constranger alguns correligionários mais empedernidos e ainda crentes dos princípios originais professados por seus candidatos e partidos.”
Tidos como “partidos-geléia”, que “se amoldam facilmente às circunstâncias colocadas pelo jogo eleitoral do momento”, eis alguns fatos, relacionados com as candidaturas encabeçadas pelo PT, PSDB e PV, que podem classificá-los como “partidos ideologicamente, impuros, inconsistentes e incoerentes”, como destaca Rudolfo Lago “nesse jogo de conveniências, apanham a história e o passado dos candidatos e de seus partidos”:
PV
Marina Silva, além do seu discurso ambientalmente correto, passou na convenção da semana passada pela saia-justa de ouvir críticas pesadas a José Sarney. Ao lado dela, estava o filho do presidente do Senado, Sarney Filho. O deputado verde com vários anos de PFL e de bigodes vastos como os de Sarney na história.
PSDB
Quando foi criado, o PSDB pretendia recuperar os valores que o PMDB, no poder durante o governo Sarney, havia perdido. Seria um partido de centro-esquerda, social-democrata, que não faria acertos com qualquer um nem aceitaria qualquer um nas suas fileiras. Essas premissas já quase ruíram no governo Fernando Collor. O PSDB só não aderiu a Collor e afundou com ele graças à mão firme de Mário Covas, que reverteu a tendência com um duro discurso. Depois, quando chegou ao poder, virou o que Sérgio Motta batizou de “partido-ônibus”: sempre cabia mais um na legenda. E, ainda conforme Sérgio Motta, começou a ter conversas que só deveriam acontecer com os interlocutores “pelados, numa sauna”. Hoje, sem conseguir arranjar um candidato a vice, o PSDB vê-se atrelado ao conservador DEM.
PT
Na convenção do PMDB (sábado/12 de junho), Dilma foi inicialmente saudada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). E, no seu discurso, discorreu sobre a história peemedebista, especialmente quanto ao papel que o partido exerceu na redemocratização do Brasil. Dilma falou da campanha das diretas, da articulação para eleger Tancredo Neves no Colégio Eleitoral e da Constituinte. Faltou dizer que PT e PMDB só estiveram juntos nas diretas. O PT chegou a expulsar seus deputados que votaram em Tancredo no Colégio Eleitoral. E recusou-se a assinar a Constituição comandada por Ulysses. Mais constrangedor: no segundo turno da eleição em 1989, o partido (registre-se que contra a vontade de Lula) proibiu Ulysses de subir em seu palanque (para o PT, Ulysses era “à direita demais” para ser parceiro na campanha). Se Ulysses não podia, imagine Sarney, que agora provoca a greve de fome de Domingos Dutra.[*]
(Cf. Rudolfo Lago)
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[*]Repercussões
Petista diz que apoio a Roseana é “autoritário e ilegal”: sem se alimentar desde a sexta-feira (10 de junho), o deputado Domingos Dutra (PT-MA) avalia que o fato de o PT se coligar à família Sarney significa “favorecer a bandidagem”. “É fortalecer a corrupção, é dizer amém ao latifúndio, é dizer amém a tudo aquilo que o PT não defende. Veja vídeo do dep. Domingos Dutra, desabafando durante sessão na Câmara.
Frei Betto, que nunca foi filiado a nenhum partido, mas mantém estreitas relações como o PT, em “Carta a um amigo petista”, escreveu: “Me pergunto se o PT voltará, algum dia, a ser fiel a seus princípios e documentos de origem. Hoje, ele luta por governabilidade ou empregabilidade de seus correligionários? É movido pela ânsia de construir um novo Brasil ou pelo projeto de poder? [...] Ainda que você não engula essas alianças que qualifica de “espúrias”, sugiro que prossiga no partido e vote em seus candidatos ou nos candidatos da coligação. Mas exija deles compromissos públicos. Lute, expresse sua opinião, faça o seu protesto, revele sua indignação. Não se sujeite à condição de vaca de presépio ou peça de rebanho. Se sua consciência o exigir, se insiste, como diz, em preservar sua “coerência ideológica”, então busque outro caminho. Nenhum ser humano deve trair a si próprio. Quando o faz, perde o respeito a si mesmo...”
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