Por Luiz Ricardo Leitão*
Se algum demiurgo burlesco convertesse os maiores ícones da malandragem de nossas letras em patronos de agremiações esportivas, os novos clubes decerto arrebanhariam inúmeros sócios entre as elites de Bruzundanga. Não é difícil prever que a fração secular da burguesia tropical que até hoje se comporta como herdeira de Brás Cubas (aquele defunto-autor cujas memórias foram dedicadas ao verme que pela primeira vez lhe roeu as frias carnes do cadáver) logo assumiria a direção da briosa entidade, ao passo que o grupo mais arrivista e solerte não hesitaria em eleger o Conselho Deliberativo do Macunaíma Futebol Clube (uma homenagem ao herói sem nenhum caráter que, com sua ambiguidade, mimetiza o mote da identidade nacional – esse velho fantasma que há muito assusta a intelligentsia da colônia).
Os sócios da Associação Atlética Brás Cubas até hoje preservam os costumes do seu protetor: gostam de zombar do povo com a mesma desfaçatez que o narrador de Machado de Assis reservava aos leitores e jamais se preocupam em honrar as promessas que, com rara grandiloquência e cinismo, enunciam na vida pública, fazendo corar até o defunto-senador Collor de Melo. Já os associados do Macunaíma F. C. são meros aprendizes na arte da maracutaia, que, apesar de sua eventual esperteza e picardia, se tornam o mais das vezes peças muito úteis para a execução das grandes ‘jogadas’ do capital nestas plagas. Tão preguiçosos e manhosos quanto o patrono, eles se deitam em berço esplêndido, sonhando em viver nas Oropas; à falta de saúvas, divertem-se decepando salários dos tapuias, mas, quando põem os olhos em dinheiro, se movem com extrema rapidez para dandar vintém...
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Cá na terrinha, Brás Cubas e Macunaíma já selaram seu acordo rumo a 2014. A Copa promete, sem dúvida, lucros fabulosos para as entidades promotoras e, como sempre, despesas infindáveis para o poder público [...].
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É, "A Copa promete, sem dúvida, lucros fabulosos para as entidades promotoras e, como sempre, despesas infindáveis para o poder público [...]".
ResponderExcluirEis a velha política romana "pão e circo", com o discurso falacioso do "desenvolvimento"...e o resultado, a gente já conhece.