Ao ver o vídeo do filósofo esloveno Slavoj Žižek -abaixo- lembrei do paradoxal “efeito rebote ou ricochete”, que aparece na lógica de pretensa “economia verde”. Quando, pode-se dizer, muitas pessoas acabam sendo engambeladas, inclusive, ao se dizerem ecologicamente corretas.
Muitos defendem que, para benefício da humanidade, a ecologia deve se juntar à economia, mas o effet rebond, ou efeito rebote, lança uma sombra sobre as perspectivas da economia verde, afirma Cédric Gossart, em seu artigo “O efeito rebote - uma pedra no sapato da tecologia verde”, de Cédric Gossart, publicado no Le Monde Diplomatique Brasil (nº 36, Jul/2010).
Será que ainda estaremos sendo ecológicos? questiona Cédric Gossart. “Quando um bem ou serviço se torna mais barato, as pessoas tendem a consumir uma quantidade maior, sem questionamento”. E “o excedente financeiro será gasto na aquisição de outros bens de consumo como TVs de plasma, viagens aéreas, telefones ‘inteligentes’ etc. o que será, provavelmente, ainda menos favorável ao meio ambiente. Ou seja, a vantagem ecológica da tecnologia se reduz a quase nada – na verdade, em alguns casos, se torna negativa devido a esses ajustes nos comportamentos individuais. Por isso, o principal alvo das campanhas oficiais sobre o desenvolvimento sustentável passa a ser o consumidor responsável.”
Em outros trechos de seu artigo, explica Gossart:
“Os economistas distinguem três tipos de efeitos rebote. O primeiro, batizado de “direto”, é o mais intuitivo, quando se reduz a intensidade energética de um serviço, seu custo baixa, portanto, as economias resultantes permitem consumir mais do mesmo serviço. O exemplo clássico é o do motorista que substitui o seu carro velho por um modelo mais eficiente e que se aproveita da sua economia de combustível para dirigir com mais frequência e mais longe [...].
No segundo tipo o efeito rebote é indireto. Ao contrário do caso anterior, o consumidor considera ter atingido um nível satisfatório de consumo do serviço, cujo preço caiu. Mas, por outro lado, ele vai gastar o dinheiro economizado, o que leva a um aumento dos fluxos de materiais na sociedade. Por exemplo, uma família vai investir os ganhos obtidos por instalar isolamento nas janelas, na compra de um console de jogos ou uma TV nova. Será que devemos estar atentos ao efeito paradoxal combinado de adotar um comportamento “ecologicamente responsável” e, simultaneamente, adquirir o último aparelho eletrônico que estiver na moda? A mesma carta que orienta o cliente, por razões de ecologia, a adotar uma cobrança pela internet, mostra quantos pontos ele tem para trocar “gratuitamente” de celular! O conforto passa por uma superabundância em aparelhos elétricos devoradores de energia e poluentes. [...]
A difusão de equipamentos eletrônicos abre um terceiro tipo de efeito ricochete, que dessa vez é suscetível de alterar a própria estrutura das sociedades humanas. Quando a eficiência com que se opera um recurso aumenta, o custo deste diminui, favorecendo as atividades socioeconômicas que fazem uso intensivo deste recurso. Essas, então, atraem capitais financeiros e colaboradores, reforçando a sua posição para dominar a concorrência. Por conseguinte, toda a economia se volta para esse recurso, que se tornou mais barato. O petróleo é uma ilustração perfeita dessa sequência, quando se considera o impacto de sua exploração e sua produção na sociedade mecanizada, industrializada, urbanizada e motorizada. Da mesma forma, nossa capacidade exponencial de transportar e armazenar um byte de informação está a ponto de transformar profundamente a sociedade. Como no caso do automóvel, pode se tornar difícil para as pessoas se desprenderem da “civilização do petróleo” em que estamos, literalmente, colados. [...]
Existem outras causas de efeito rebote: consumimos um bem ou serviço, pois ele fornece um maior nível de conforto ou desempenho, mas também porque temos que ganhar tempo e isso pode ter repercussões importantes ao se difundir de maneira maciça na sociedade. Os meios de transporte rápido serão, por exemplo, privilegiados, assim como os deslocamentos individuais superarão os coletivos e as filas nos aeroportos ou engarrafamentos nas estradas ganharão força...
Os que utilizam a internet também são vítimas desse fenômeno. O acesso rápido a documentos, que antes teriam sido pedidos pelo correio, ou que teriam de ser procurados numa biblioteca, cria uma riqueza de informações que leva, em última instância, a gastarmos mais horas do que o esperado para ler esse material no computador [...]."
Bueno, isso tudo poderia, também, determinar que “a ecologia é o ópio do povo”!?
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