Molhou os sapatos dos passantes que faziam compras
Sujou os papéis coloridos e os laços brilhantes dos presentes de Natal
Enlameou os enfeites natalícios pendurados nas ruas
Tingiu de castanho as barbas brancas dos pais natais.
A lama escorreu pelas paredes das casas
Condicionou o trânsito nas avenidas
Escureceu as lâmpadas que iluminam as ruas.
E a lama era a indiferença, o egoísmo, o esquecimento.
Eu, que não acredito no Natal,
Que não acredito num Jesus nascido numa manjedoura
Fruto de uma imaculada concepção entre deuses e humanos
Eu que não acredito no Jesus salvação
No Jesus expiação dos pecados do pai
No Jesus redentor, libertador, salvador da humanidade,
Vi surgirem da lama que inundou as ruas,
Imaculados e limpos,
Multidões de sem tecto, sem pão, sem Natal,
Livres de pecado porque despojados de esperança,
Que sabem que Jesus nasce todos os anos num centro comercial
E é oferecido embrulhado em papel colorido.
(“Encandescente”)
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