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3.1.11

Rock - o som da fúria - dos movimentos de protesto nos anos 1960

O som da fúria: O rock foi a trilha sonora dos movimentos de protesto que varreram o mundo nos anos 1960

Apaguem as velinhas! O som da contracultura vai completar 50 anos. Em janeiro de 1961, Robert Allen Zimmerman, já investido do nome de guerra, Bob Dylan, deixou sua Minnesota natal e começou a cantar nos bares do Greenwich Village. Em Nova York, a primeira coisa que Dylan fez foi visitar seu ídolo, Woody Guthrie, cantor itinerante que sempre lutou pela causa social e entalhou com canivete no violão a frase “Esta máquina mata fascistas”.
Já em 1963, o jovem Dylan estourava nas paradas com Blowin’ in the Wind [...]
“Quantas estradas deve um homem percorrer / Até que o considerem um homem? / (…) A resposta, meu amigo, está soprando ao vento, / A resposta está soprando ao vento”.
Era uma canção de paz, de certo modo simplista, mas os sixties ainda estavam começando. À medida que a década escrevia sua história, o rock ia compondo sua trilha sonora. A resistência passiva cedeu lugar à indignação e, depois, à raiva. Mostrando que não eram de todo ignorantes em Shakespeare, os escribas do Novo Jornalismo criaram um chavão para o rock: o som e a fúria. Em Macbeth, o bardo concluía que a vida “é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”. Prefiro uma variante do chavão, que afirma que o rock foi o som da fúria, do sentimento incontido de milhões que achavam chegada a hora de uma mudança radical e planetária. [...]

[Em 1968], no Brasil, Geraldo Vandré lançava “Caminhando (Pra Não Dizer que Não Falei das Flores)”: “Pelas ruas marchando indecisos cordões / Ainda fazem da flor seu mais forte refrão / E acreditam nas flores vencendo o canhão”. Foi um dos exemplos mais extremos da força da música atuando sobre a realidade. A canção de Vandré – e seu eco na juventude brasileira – levou a ditadura a um gesto de desespero: a decretação do AI-5, que levaria, por sua vez, ao acirramento do confronto entre a sociedade e os militares nos “anos de chumbo”. [...]

E a morte da Santíssima Trindade dos J do rock – Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison – entre o final de 1970 e meados de 1971, todos aos 27 anos – fechava simbolicamente a tampa do caixão do rock e da contracultura.

O rock continuou presente, nos festivais, nos megashows e nas paradas de sucessos, mas não mais como uma bandeira da revolução, mesmo porque a revolução também já havia perdido sua hora. Nos tempos neoconformistas de um mundo globalizado e informatizado, passou a imperar a lei do salve-se quem puder e não há mais lugar para a rebeldia. Resta apenas a figura singular de um Bob Dylan às vésperas dos 70 anos, misto de judeu errante e caubói solitário, arrastando pelos quatro cantos da Terra sua Never Ending Tour, iniciada em junho de 1988. Em mais de 2.200 shows, ao longo de 22 anos, ele ainda recita suas velhas profecias: And the present now will soon be the past / The order is rapidly fading. / The first one now will later be last. / For the times, they are a-changing (E o presente logo será passado. / A ordem rapidamente se desfaz. / O primeiro hoje será o último. / Pois os tempos estão mudando”).  |Bob Dylan - The Times They Are A-Changin'|

Revista Cult » O som da fúria. Por Roberto Muggiati. |texto completo aqui|

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