Diante das manifestações populares contra o regime autoritário e corrupto de Hosni Mubarak no Egito, entre tantas análises importantes, surgiu um debate acerca do peso das tecnologias – leia-se internet/redes sociais e celulares – nos protestos da população egípcia.
Entre os que não atribui força nenhuma, está Paulo Henrique Amorim – PHA, que criticou a opinião de quem aposta que o uso da internet e do celulares são capazes de produzir uma revolução popular. Para ele, essas tecnologias não fazem revolução nenhuma; pois Mubarak não vai cair por causa dos celulares, ele vai cair porque a galera foi para a rua. Daí que relacionar as manifestações populares e a derrubada do ditador com internet/redes sociais e celulares é uma fetichização da tecnologia: não passa de papo furado de conservador para desqualificar movimentos populares, bem como de um merchandising da indústria da telecomunicação, destaca PHA.
Essa critica é reforçada, sobretudo, se for considerado o fato de que o acesso à internet ainda é relativamente baixo no Egito (estima-se que cerca de 20% da população está conectada, com um número ainda menor para redes sociais). Quanto aos celulares, há uma limitação no uso dos serviços de telefonia móvel desde que começou a revolta popular (inclusive, no início dos protestos, uma das primeiras medidas do ditador Mubarak foi interromper parte dos serviços de celulares). Somada a contra-informação favorável ao governo egípcio, que é suspeita de fazer a própria operadora de telefonia móvel Vodafone.
É o que lembra Felipe Corazza, ponderando que, apesar das limitações claras, o ceticismo total em relação à força da tecnologia e das redes sociais nos protestos também é descabido. Afinal, estas têm funções bem mais relevantes do que apenas mobilizar e chamar às ruas. A transmissão de informações em formatos diversos é parte deste processo: telefones celulares com câmera, gravadores e câmeras digitais ultra-compactas permitem registro permanente de imagens e sua transmissão pela internet (com repercussão imediata nas redes sociais). Se não impede totalmente a violência, tal cobertura “independente” constrange o governo Mubarak a evitar um massacre.
Com essa visão, observando bem ambos os lados, destaca Corazza que definir a revolta popular no Egito como um “revolução da internet” é tão improdutivo quanto ignorar a força da rede na mobilização dos jovens e na transmissão de informações. Assim como fica evidente o reforço dado pela conexão à rede e às mídias sociais, é prudente combater a ingenuidade e o sentimento de que uma “hashtag” no Twitter pode, de per si, mudar o mundo.
Para ler ambos os textos acessar:
Conversa Afiada » Calma, Miriam! Internet e celular não fazem revolução, por Paulo Henrique Amorim.
CartaCapital » A revolução é online e offline, por Felipe Corazza.
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