Conheço o jeito exato de fazer errado
perdido nesta teia que não tem enredo
(como bater na porta com a ponta dos dedos
como buscar um bit num banco de dados)
Conheço de cabeça o que não interessa
aos donos da verdade – este bilhar sem mesa –
(o rio não tem por que fugir da correnteza
a lesma só se arrasta porque não tem pressa)
Conheço pelo som o que não tem sentido
o que não tem segredo, o puro falatório
(os riscos nas paredes dos reformatórios
os traços de audiência dos desconhecidos)
Conheço por inteiro o meio do caminho
e até ali eu vou: depois dali não passo
(relendo folha a folha os mesmos calhamaços
ilhando-me no espelho a milhas dos vizinhos)
Conheço com frequência o que não passa nunca
e deixa marcas roxas no fio da navalha
(um pássaro acalenta tanto que atrapalha
um copo de aguardente, mais que alegra, trunca)
Conheço pontualmente a falta de horário
dos que me fazem falta nesse dia-a-dia
(atrás dos velhos álbuns de fotografias
atrás das folhas rasuradas dos diários)
Conheço e recomeço e logo mais esqueço
(no ouvido a mão em concha perguntando onde
na testa a mão em aba procurando longe)
pois tudo o que aprendi está do lado avesso
|Diego Grando. Prestação de contas|
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