A publicação de artigos científicos de pesquisadores brasileiros pode ter problemas de conduta ética em sua produção. O alerta é de Jesusmar Ximenes Andrade, autor da Tese de doutorado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) que aborda o tema. Citações de fontes não consultadas na bibliografia dos trabalhos acadêmicos e coautorias forjadas são algumas das ocorrências mais frequentes de acordo com a tese defendida em abril, sob orientação do professor Gilberto de Andrade Martins.
Entre as condutas mais comuns, segundo os resultados desse estudo, aparece a de pesquisadores creditarem outros como coautores sem que estes tenham contribuído na construção e sistematização da pesquisa. Isso com o intuito de que, em outro trabalho, haja a retribuição do favor. “Pesquisadores que fazem isso podem ter vantagem em concursos públicos ou em indicações para projetos de pesquisas pois teriam mais publicações que outros”, explica Andrade. Além disso, com a coautoria, ao assinarem dois artigos em vez de um, os falsos parceiros aumentam sua produtividade, quesito que é avaliado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
O autor da tese, que é professor adjunto da Universidade Federal do Piauí (UFPI), destaca o fato de os resultados de sua pesquisa dizerem respeito à “má conduta na pesquisa das ciências contábeis”, mas avalia que “não encontraríamos resultados muito diferentes se fôssemos para um censo”, incluindo todos os campos científicos.
Para ele, o Brasil mantém o foco na quantidade, critério que fez o país ocupar o décimo terceiro lugar na produção científica internacional, e não se preocupa com a qualidade. “Por que o Brasil não tem um [Prêmio] Nobel?”, pergunta ao afirmar que “a quantidade que nós estamos buscando é infinitamente desproporcional à qualidade dos estudos que estamos produzindo”.
A busca por quantidade é almejada por todos os pesquisadores, de acordo com Andrade. “Seja para conseguir recursos ou para obter status dentro da academia.” Em sua opinião, “para buscar essa quantidade, esse volume, termina-se utilizando certos artifícios que, segundo foi observado, não são condutas livres de suspeita. São condutas impregnadas de comportamentos antiéticos”.
Ler mais sobre o assunto em:
Agência USP de Notícias » Pressão da Capes pode incentivar má conduta de pesquisadores.
Agência Brasil » Tese da USP aponta para possibilidade de comportamento antiético na publicação de artigos científicos.
CartaCapital » Antiética na produção científica.
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