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11.8.11

Protestos londrinos: “criminalidade, pura e simples”?

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E o governo [do conservador David Cameron], ancorado nos meios de comunicação, não parece muito interessado em procurar explicações. Tem colunista de jornal até citando o filósofo Thomas Hobbes e seu estado de natureza para explicar o caos nas ruas inglesas, como se o problema residisse no excesso de liberdade e a solução estivesse em um governo forte, capaz de decidir por todos. Colocar 16 mil policiais nas ruas foi a única resposta do primeiro-ministro, enquanto afirmava que enfrentaria os criminosos com mãos de ferro, com frases que deixariam os defensores de direitos humanos de cabelo em pé, como estas: “Vocês vão sentir toda a força da lei. Se você tem idade suficiente para cometer crimes, você tem idade suficiente para encarar a punição”. Desta forma, ele joga toda a responsabilidade para os jovens e busca não refletir sobre por que a sociedade tem crianças e adolescentes que cometem esses atos.

A força policial de fato encerrou os protestos, e agora os londrinos dormem tranquilos. Garantir o metrô e os ônibus funcionando e as ruas em aparente tranquilidade parece o suficiente para Cameron. Já são mais de 1.100 pessoas presas na Inglaterra, 805 só em Londres, e assim parece que o problema foi solucionado. De fato, para quem trata uma manifestação social dessa magnitude como “criminalidade, pura e simples”, basta encerrar os ataques que a noite de sono tranquilo está garantida. Mas as pessoas continuam lá, o desemprego aumenta, a crise corrói.

Agora a situação está sob controle na Inglaterra, e a rainha pode ficar aliviada. David Cameron passou por um difícil teste ao controlar a violência, mas só o fato de ela ter começado e de ter atingido a proporção que atingiu já é suficientemente significativo de que o país não está navegando em mares tão calmos e sob controle. Resta saber se agora os olhos vão se abrir e gerar alguma reação política efetiva para a vida dos cidadãos e cidadãs ou se o governo vai continuar fingindo que não aconteceu nada além de incêndios, roubos e três mortes sem causa e sem importância social. Se tratar como um sangramento já estancado, ele vai voltar a abrir.

Leia a reportagem completa da jornalista Cris Rodrigues na Carta Maior

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