Páginas

9.11.11

PM no Campus?

Acompanhando de longe e me informando sobre a repercussão da presença de polícias militares nos espaços acadêmicos/universitários - além do vídeo (já postado aqui ) com a excelente fala da estudante Marina Xisto - selecionei e vou guardar aqui trechos de mais algumas opiniões que penso oportunas para começar refletir...

Pela volta da Idade Média à USP | Mário Maestri
“Na Idade Média, era uma enorme conquista quando uma cidade obtinha uma universidade. Comumente, com ela, vinha o direito a uma ampla autonomia quando à autocracia do príncipe. Tratava-se de liberdade considerada indispensável para o novo templo do saber. Devido a isso, o campus universitário medieval possuía sua polícia própria e julgava seus alunos, funcionários, professores.
[...]
Se, na Idade Média, um senhor reitor atirasse pela janela do seu palácio a valiosa autonomia conquistada pela cidade, chamando a polícia para atuar livremente no campus, certamente seria destituído por seus pares e, possivelmente, mandado para a masmorra da Universidade, para refletir melhor sobre sua vontade de subserviência ao príncipe! Coisas da Idade Média.”
Mário Maestri.

++++

Guerra de ilusões e fantasmas na USP | Paulo Moreira Leite
[...]
“Há concretamente um choque de civilizações entre estudantes e a PM. Habituada a fazer seu trabalho junto às parcelas humildes da população, que não tem meios de defesa nem canais de denúncia e reivindicação, ao atravessar a universidade a PM entra em colisão com um mundo diferente, com outros códigos e discursos.
Em vez de encontrar cidadãos socialmente indefesos, os soldados estão diante de brasileiros e brasileiras que tem outra condição social. As estatísticas informam que as universidades públicas estão longe de constituir um abrigo exclusivo de filhinhos de papai, como sustentam os advogados de sua privatização, mas são uma instituição que abriga pessoas que estão condenadas a agir e reagir como personagens de nossa elite cultural. Essa possibilidade de resistência dificulta a aplicação, nas universidades, do simples jogo bruto que é comum em outros lugares. [...]
Mas não concordo com sua reivindicação, “Fora PM”.
[...] Sei que a corporação acumula um comportamento violento e autoritário que vai muito além do razoável. Isso está errado e é inaceitável.
O debate sobre segurança é atual e tem uma dimensão nacional. Mas nenhuma proposta de reforma ou mesmo reconstrução da PM, autoriza que se dispense o serviço da corporação.
A boa educação política ensina que é preciso separar as coisas. Numa democracia, todos precisam aprender isso.
A presença da PM na universidade não pode servir de desculpa para agressões contra estudantes.”
Paulo Moreira Leite

++++

Invasão da PM na USP teve força desproporcional | juiz José Henrique Rodrigues Torres
Rádio Brasil 


++++

Muito além da polêmica sobre a presença ou não da PM no campus da USP | Raquel Rolnik
[...]
“É uma enorme falácia, dentro ou fora da universidade, dizer que presença de polícia é sinônimo de segurança e vice-versa. O modelo urbanístico do campus, segregado, unifuncional, com densidade de ocupação baixíssima e com mobilidade baseada no automóvel é o mais inseguro dos modelos urbanísticos, porque tem enormes espaços vazios, sem circulação de pessoas, mal iluminados e abandonados durante várias horas do dia e da noite. Esse modelo, como o de muitos outros campi do Brasil, foi desenhado na época da ditadura militar e até hoje não foi devidamente debatido e superado. É evidente, portanto, que a questão da segurança tem muito a ver com a equação urbanística.
Finalmente, há o debate sobre a presença ou não da PM no campus. Algumas perguntas precisam ser feitas: o campus faz parte ou não da cidade? queremos ou não que o campus faça parte da cidade? Em parte, a resposta dada hoje pela gestão da USP é que a universidade não faz parte da cidade: aqui há poucos serviços para a população, poucas moradias, não pode haver estação de metrô, exige-se carteirinha para entrar à noite e durante o fim de semana. Tudo isso combina com a lógica de que a polícia não deve entrar aqui. Mas a questão é maior: se a entrada da PM no campus significa uma restrição à liberdade de pensamento, de comportamento, de organização e de ação política, nós não deveríamos discutir isso pro conjunto da cidade? Então na USP não pode, mas na cidade toda pode? Que PM é essa?
Essas questões mostram que o que está em jogo é muito mais complexo do que a polêmica sobre a presença ou não da PM no campus.”
Raquel Rolnik

++++

Uma aula de crise | Luciano Martins Costa
[...]
“Fugindo do assunto. Os jornais não juntam esses fragmentos de fatos que revelam uma longa e persistente crise na maior universidade do país.
[...] Mas a insistência dos jornais em relacionar o descontentamento dos estudantes com a repressão ao uso de maconha esconde o mais importante: o regimento disciplinar da USP está defasado, o governo do Estado não sabe como lidar com a autonomia universitária e, definitivamente, a Polícia Militar não tem o preparo adequado para conviver com estudantes, com jovens em geral.
[...] A decretação da greve por parte dos estudantes deve ganhar a adesão de professores e funcionários, paralisando a universidade pelo resto do ano.
[...] O noticiário dos jornais vai agora se concentrar na cobertura da greve, e mais uma vez os problemas crônicos da universidade vão ficar no escuro.”
Luciano Martins Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário