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1.5.12

Deterioração global do emprego



Embora o crescimento econômico tenha se reativado em algumas regiões, a situação global de emprego é extremamente alarmante e não dá sinais de recuperação no futuro próximo, disse a Organização Internacional do Trabalho(OIT).

O “Relatório sobre o trabalho no mundo em 2012: melhores empregos para uma economia melhor” da OIT assinala que ainda continuam faltando 50 milhões de empregos em nível mundial comparado à situação que existia antes da crise. Também adverte que está surgindo uma nova e ainda mais problemática fase de crise mundial do emprego.

Em primeiro lugar, isto se deve ao fato de que muitos governos, em particular nas economias avançadas, deram prioridade à combinação de austeridade fiscal e reformas laborais drásticas. O relatório sustenta que este tipo de medidas está produzindo consequências devastadoras nos mercados laborais em geral e na criação de emprego em particular. Tampouco conseguiu, em geral, reduzir o déficit fiscal.

“A excessiva importância que muitos países da eurozona estão dando à austeridade fiscal está aprofundando a crise de emprego e poderá inclusive conduzir a outra recessão na Europa”, disse Raymond Torres, Diretor do Instituto Internacional de Estudos Laborais e principal autor do relatório.

“Os países que investiram em políticas de criação de emprego conseguiram melhores resultados em termos econômicos e sociais”, acrescentou Juan Somavia, Diretor Geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Muitos desses países tornaram-se mais competitivos e superaram a crise melhor do que aqueles que seguiram o modelo de austeridade. Podemos estudar detalhadamente estes países e extrair lições”.

Em segundo lugar, nas economias avançadas muitas pessoas que buscam trabalho estão desmoralizadas e estão perdendo suas qualificações, o que afeta suas oportunidades de encontrar trabalho. Além disso, as pequenas empresas têm um acesso muito limitado ao crédito, o que contribui para deprimir os investimentos e impedir a criação de empregos. Nestes países, em particular na Europa, a recuperação do emprego não está prevista para antes de finais de 2016, a menos que as medidas políticas mudem radicalmente seu curso.

Em terceiro lugar, na maioria dos países avançados, muitos dos novos empregos que surgem são precários. As formas não convencionais de emprego estão aumentando em 26 das 50 economias avançadas para as quais se dispõe de dados. No entanto, alguns países conseguiram gerar empregos e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade do trabalho, ao menos alguns de seus aspectos. Por exemplo, no Brasil, Indonésia e Uruguai as taxas de emprego aumentaram e a incidência do trabalho informal diminuiu. Isto se deve à introdução de políticas sociais e laborais adequadas.

Em quarto lugar, o clima social deteriorou-se em muitas partes do mundo e poderia levar a um aumento das tensões sociais. Segundo o Índice de Tensão Social do Relatório, 57 dos 106 países analisados mostraram um aumento no risco de tensões sociais em 2011 comparado com 2010. As regiões com maiores aumentos são a África Subsaariana, o Oriente Médio e o Norte da África. 

O relatório afirma que a austeridade fiscal combinada com a liberalização do mercado laboral não favorecerá as perspectivas de emprego a curto prazo. De fato, não existe uma relação evidente entre as reformas do mercado de trabalho e taxas de emprego mais altas. Além disso, algumas reformas recentes – sobretudo na Europa – reduziram a estabilidade laboral, exacerbaram as desigualdades e fracassaram em criar empregos. O relatório sustenta que se for adotada uma combinação de políticas favoráveis à criação de empregos, baseada em impostos e no aumento dos investimentos públicos e benefícios sociais, poderiam ser criados aproximadamente 2 milhões de empregos durante o próximo ano nas economias avançadas.

Outras conclusões importantes do relatório incluem:
  • As taxas de emprego aumentaram somente em 5 das 36 economias avançadas desde 2007: Alemanha, Israel, Luxemburgo, Malta e Polônia.
  • As taxas de desemprego juvenil aumentaram em cerca de 80 por cento nos países avançados e em dois terços nos países em desenvolvimento.
  • A taxa de pobreza aumentou na metade das economias desenvolvidas, e em um terço nas economias em desenvolvimento, enquanto que a desigualdade aumentou na metade dos países desenvolvidos e em um quarto nas economias em desenvolvimento.
  • Na média, mais de 40 por cento das pessoas que procuram trabalho nas economias avançadas permaneceu sem trabalhar durante mais de um ano. A maioria das economias em desenvolvimento mostra uma diminuição das taxas de desemprego e inatividade a longo prazo.
  • O trabalho em tempo parcial involuntário aumentou em dois terços nas economias avançadas. O trabalho temporário também aumentou em mais da metade destes países.
  • A proporção de emprego informal se situa em mais de 40 por cento em dois terços dos países emergentes e em desenvolvimento.
  • Em 26 dos 40 países sobre os quais se dispõe de dados, a proporção de trabalhadores protegidos por um acordo coletivo diminuiu entre 2000 e 2009.
  • 28 por cento de um número selecionado de países emergentes e em desenvolvimento implementaram políticas para reduzir benefícios sociais durante a crise, comparado com 65 por cento das economias avançadas.
  • O investimento global, que alcançou 19,8 por cento em 2010, permanece 3,1 pontos percentuais abaixo da média histórica, com uma tendência descendente mais pronunciada em economias avançadas. Em todas as regiões, a crise mundial teve um impacto desproporcional sobre os investimentos em pequenas empresas. OIT