Desconheço como os direitos humanos são ensinados-aprendidos nas faculdades/cursos de jornalismo (comunicação social). Isso se são? Não seria surpresa se surgisse uma informação revelando que a temática direitos humanos nem se quer é incluída entre as disciplinas do currículo. Ainda que a educação superior não seja um pressuposto seguro de que um/a jornalista tenha conhecimento e sensibilidade para tratar temas de direitos humanos (ainda mais diante da não exigência de diploma para exercer a atividade), o fato é que esta tarefa específica das instituições de ensino superior na formação de profissionais do jornalismo não pode ser minimizada ou descartada na sociedade.
Bueno, a questão é que – apesar de existir excelentes jornalistas – há uma imensa gama de novos e antigos profissionais que tratam (quando abordam) os direitos humanos de forma muito tacanha e restrita (seja por conta própria seja a mando de seus patrões). Uma das revelações disso é percebida diariamente, em muitos jornais brasileiros, quando se encontra notícias, reportagens e opiniões naturalizando (explicita ou implicitamente) violações/negações de direitos humanos ou simplesmente cobrindo a temática de forma generalizante e centrada, em específico, na violência, ignorando a abrangência de conteúdo dos direitos humanos.
Aliás, vale lembrar a pesquisa, em 57 jornais de todas as unidades da federação, com base em uma amostra de 1.315 matérias publicadas ao longo de 2004, realizada pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância (ANDI), apoiada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Esta pesquisa revela que a imprensa escrita brasileira ainda dedica pouquíssimo espaço à temática: “os dois enquadramentos jornalísticos mais empregados para falar dos direitos humanos são aqueles que abordam o tema a partir da sua violação (13,9%) ou da reflexão acerca dos direitos de populações específicas (12,5%), como crianças, homossexuais e pessoas idosas. Aspectos relevantes, como as de promoção dos direitos (4,8%) ou a compreensão de que os mesmos são qualificadores vitais das políticas públicas (4,3%) aparecem em menor medida. E 54% das matérias partem da perspectiva governamental para a cobertura. Além disso, a sociedade civil está pouco representada nas reportagens – aparece em 8,9% dos textos –, enquanto os movimentos sociais são citados em menos de 1% do material analisado.” (Ver livro: “Mídia e direitos humanos: análise da cobertura da imprensa brasileira”, publicado em julho 2006).
Outra revelação foi recente: quando se pode visualizar alguns jornalistas (em nome dos interesses das empresas de comunicação) atacando a terceira edição do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Entre outros itens que foram alvos de seus ataques está o que prevê a elaboração de “critérios de acompanhamento editorial a fim de criar um ranking nacional de veículos de comunicação comprometidos com os princípios de direitos humanos, assim como os que cometem violações”; e a sugestão “aos estados, Distrito Federal e municípios de fomentar a criação e acessibilidade de Observatórios Sociais destinados a acompanhar a cobertura da mídia em direitos humanos”. Mas toda a ofensiva proporcionada por alguns integrantes da imprensa foi um despropósito. Embora tentem acusar estas propostas e o conjunto do PNDH-3 de “ameaça à liberdade de expressão” ou “autoritário”, em verdade, o objetivo é exercer um monitoramento da programação, bem como criar critérios de avaliação das concessões (as quais são públicas), bem como fazer com que os meios de comunicação mantenham uma linha editorial de conformidade com os direitos humanos.
Enfim, mudar a abordagem tacanha e limitada sobre os direitos humanos em muitos meios de comunicação, assim como avançar na concretização do PNDH-3, constitui-se um processo histórico continuo e permanente. E isso deve ser assumido pelos próprios profissionais de jornalismo, que são responsáveis não apenas por denunciar violações a tais direitos, mas também por fortalecer o debate público para garanti-los e promovê-los. Bem, mas isso, depende, em certa medida, da formação de jornalistas conscientes e sensíveis aos direitos humanos; daí a responsabilidade das faculdades/cursos de jornalismo.
É isso, valeu!
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