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26.5.10

Seattle 1999: marco do altermundialismo

Daqui há dez anos, o que estará escrito sobre Seattle não será que bombas de gás de lacrimogêneo foram lançadas nas ruas, mas sim que a reunião da OMC, em 1999, foi o nascimento de um movimento popular global por uma economia global democrática.”
(Fala nos protestos de Seattle em 1999)

O texto de Michael Löwy (postado abaixo) menciona o “movimento altermundialista”: o fenômeno de resistência antisistêmica, que associa sindicatos operários e movimentos camponeses, ONGs e organizações indígenas, movimentos de mulheres e associações ecológicas, intelectuais e jovens ativistas. Segundo Löwy, esse “movimento dos movimentos” – plural, múltiplo, diverso e heterogêneo – manifesta-se nos Fóruns Sociais (regionais e mundiais) e nas grandes manifestações de protesto (contra a Organização Mundial do Comércio - OMC, o G8, entre outras). Tanto que, lembra Löwy, o ato de nascimento do altermundialismo foi a grande manifestação popular que fez fracassar a reunião da OMC em Seattle/EUA, em 1999.

Daí que lembrei da produção cinematográfica “A Batalha de Seattle” (Battle in Seattle), dirigida por Stuart Townsend e lançada em 2007. Em tom de drama, este filme ficcionaliza as manifestações ocorridas na época. E é possível ver um pouco, como um protesto pacífico - pedindo o fim das conferências da Rodada do Milênio da OMC - passou a ser reprimido pelo Departamento de Polícia e pela Guarda Nacional dos EUA, após a decretação do toque de recolher e do estado de sítio nas ruas próximas à convenção da OMC. (Ver trailer aqui.)

Mas, ao buscar a sinopse do filme Battle in Seattle, confesso que encontrei algo superior: o documentário, lançado em 2000, “Essa é a cara da democracia” (This is What Democracy Looks Like). Montado por Jill Friedberg e Rick Rowley, da produtora de mídia radical Big Noise Films, este documentário traz uma seleção de imagens/filmagens captadas durante os quatro dias de protestos por mais de uma centena de ativistas. Às cenas captadas, somam-se entrevistas com ativistas e intelectuais.

Dizem que este documentário se tornou realidade porque, para acompanhar as manifestações de novembro de 1999, nas ruas de Seattle, havia sido criado o Centro de Mídia Independente, um coletivo de ativistas da comunicação que disponibilizaria meios para que os manifestantes pudessem contar sua própria versão dos fatos, em oposição à cobertura da mídia hegemônica, e mostrar ao mundo o quão democráticos são os procedimentos e decisões da OMC. (Cf. Bernardo Vianna)

E deu resultado, tanto que “Essa é a cara da democracia” busca revelar a união de grupos contra uma luta única: a economia global capitalista/capitalismo financeiro global. Nesse sentido, o documentário também defende o pensamento de como uma aliança entre todas as categorias populares/sociais representa uma força maior diante da opressão do Estado e das grandes corporações. A mensagem principal do filme é a de união de todas as lutas, pois expressam a mesma vontade de superar o paradigma do capitalismo e a construção de uma sociedade mais justa. (Cf. Lemad)

Sem dúvidas, estas imagens/cenas documentando o ativismo que fez fracassar o encontro da cúpula da OMC, em Seattle, comprovam aquilo que escreveu Michael Löwy. Isso foi o marco inicial do movimento altermundialista, caracterizado, em síntese, pela pluralidade de associação de ativistas/setores e causas.

O documentário “Essa é a cara da democracia”, com legendas em português, está disponível para download no sítio do CMI, bem como no YouTube – em sete partes.

É isso, valeu!

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