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10.6.10

Desastre ecológico: impotência estadunidense


Como se acompanha pelos meios de comunicação, desde 20 de abril/2010, ocorre um grande vazamento de petróleo no Golfo do México/EUA, em decorrência da explosão da plataforma Deepwater Horizon, explorada/operada pela companhia britânica British Petroleum (BP).

A plataforma Deepwater Horizon explodiu e afundou, matando 11 funcionários. Desde então, estima-se que o poço danificado, localizado a uma profundidade de cerca de 1,5 mil metros no oceano, esteja liberando entre 12 mil e 24 mil barris diários de petróleo, no que já é considerado o pior desastre ambiental da história estadunidense.

Este vazamento de petróleo já superou aquele que foi causado pelo naufrágio do navio petroleiro Exxon Valdez, da Exxon Mobil, em 1989.

Desde abril de 2010, as diversas tentativas de conter o vazamento fracassaram e a mancha de petróleo já atinge cinco estados. Estão sendo afetados o ecossistema marinho, a fauna e a flora da faixa litorânea de estados como Louisiana, Mississipi, Flórida e Alabama.

Cientistas alertaram que grandes faixas de petróleo não se integram à maré de óleo que cobre a superfície de parte do Golfo do México e se mantêm circulando no fundo do mar, uma situação que, alertaram, pode ser devastadora para o ecossistema submarino da região (AFP). Cogita-se que se levará alguns meses para limpar a mancha de petróleo da superfície do Golfo, mas que o trabalho de limpeza dos pântanos e outros habitats afetados pelo vazamento poderá levar anos (BBC/Br).

O petróleo continua a vazar porque a responsável pelo desastre, a British Petroleum (BP), não consegue consertar o oleoduto acerca de 1,5 mil metros de profundidade. E pelo jeito o governo estadunidense não tem nem equipamento nem pessoal para de resolver o problema. Em uma carta oficial, datada de terça-feira, 8 de junho, o governo dos EUA deu à companhia BP um ultimato de 72 horas, depois da recepção do comunicado, para que apresente um plano detalhado sobre como deterá o vazamento no Golfo. O governo também ordena a BP relatar as demandas apresentadas contra ela por pessoas ou empresas prejudicadas pelo vazamento do óleo (AFP). Medida pequena e que vem com atrasos!

Tanto a petroleira britânica quando o governo estadunidense têm sido duramente criticados por sua resposta ao acidente. Uma pesquisa de opinião encomendada pela rede de televisão ABC e pelo jornal The Washington Post revelou que 69% dos norte-americanos consideram a resposta do governo ao desastre negativa. Em relação à resposta da BP, esse percentual sobe para 81%. Segundo a pesquisa, 73% dos norte-americanos consideram o vazamento um desastre de grandes proporções, e 64% acham que a BP e outras empresas envolvidas deveriam ser submetidas a um processo judicial (BBC/Br).

Vazamento exibe impotência do Estado diante de empresas
- como bem escreveu o jornalista Carlos Drummond:

“O jorro descontrolado de petróleo do poço da British Petroleum desde 20 de abril, no fundo do Golfo do México, simboliza bem a absoluta impotência do governo mais poderoso do mundo diante da empresa responsável pelo maior desastre ecológico da história.

A pressa em retirar plataforma de exploração para recolocá-lo em outro local teria provocado o desastre. Outras causas são apontadas: um suposto defeito na fabricação do equipamento de perfuração e também o lobby pesado da BP. Unida a outras grandes companhias petrolíferas, teria envolvido órgãos do governo e instituições reguladoras de modo a obter um afrouxamento das normas e das exigências de segurança e de proteção ambiental.

No cômputo das responsabilidades, inclua-se uma decisão presidencial. O desastre põe na conta de Barack Obama o endosso ao frenesi de exploração de petróleo de George W. Bush, prócer da liberdade quase absoluta concedida a empresas e bancos. O atual presidente dos Estados Unidos, em vez de conter a exploração desregrada, ampliou a área marítima permitida para perfuração de poços de petróleo e a cada dia paga o preço político dessa decisão.

O nome da British Petroleum inclui-se agora na longa lista de gigantes empresariais e financeiros que contaram com uma liberdade de ação muito acima do que recomendariam cuidados mínimos de proteção da sociedade. A mesma liberdade que tiveram AIG, Lehman Brothers, J.P. Morgan, Citibank, Goldman Sachs e outros protagonistas da crise de 2008-2009, maior catástrofe financeira desde a que antecedeu a Grande Depressão da década de 1930.”
(Carlos Drummond. Terra)

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