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10.6.10

Educação “bancária” como instrumento da opressão

Reli algumas das minhas anotações de Paulo Freire, especificamente, sua obra Pedagogia do oprimido, na qual ele escreveu sobre a concepção “bancária” da educação como instrumento da opressão.

Bueno! Compreendo que, mesmo resumidamente, é importante compartilhar, aqui, as idéias desse notável pensador brasileiro.

Ao analisar as relações educador-educandos, Paulo Freire convenceu-se que estas relações apresentam um caráter especial e marcante – o de serem relações fundamentalmente narradoras, dissertadoras. Narração ou dissertação que implica um sujeito – o narrador – e objetos pacientes, ouvintes – os educandos.

E a suprema inquietação desta educação, segundo Paulo Freire, é que se narra ou fala da realidade como algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não fala ou disserta sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos.

Segundo Paulo Freire, esta narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo” os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão.

Daí que, a educação se torna um ato de depositar, em que o educador é o depositante e os educandos são os depositários. Eis aí, nas palavras de Paulo Freire, a concepção “bancária” da educação, para a qual a educação é ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos. A única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem pacientemente os depósitos, guardá-los, arquivá-los e repeti-los.

E esta concepção “bancária”, que Paulo Freire critica, reflete a sociedade opressora. Sendo dimensão da “cultura do silêncio”, os humanos são vistos como seres da adaptação, do ajustamento. Entende ele que: Quanto mais se exercitem os educandos no arquivamento dos depósitos que lhes são feitos, tanto menos desenvolverão em si a consciência crítica de que resultaria a sua inserção no mundo, como transformadores dele. Quanto mais se lhes imponha passividade, tanto mais ingenuamente, em lugar de transformar, tendem a adaptar-se ao mundo, à realidade parcializada nos depósitos recebidos.

E como observou Paulo Freire, na medida em que esta visão “bancária” anula o poder criador dos educandos ou o minimiza, estimulando sua ingenuidade e não sua criticidade, este tipo de educação satisfaz aos interesses dos opressores: para estes, o fundamental não é o desnudamento do mundo, a sua transformação.

Assim, em síntese, entende-se a concepção “bancária” da educação, tida como instrumento da opressão, em Paulo Freire, na sua obra Pedagogia do oprimido (Paz e Terra, 1997. p. 57-60).

Ah, como leu nosso pensador, disso tudo já tinha consciência a Mafalda, do Quino

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