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30.6.10

Latuff: luta pelos direitos humanos com cartuns

O “Outras Palavras”, publicou uma entrevista com Carlos Latuff, “o cartunista da luta palestina”.

Reconhecido internacionalmente, ele, em geral, é pouco conhecido e reconhecido no Brasil. Sobrevive dos desenhos e charges para a imprensa sindical e dedica quase todo seu tempo livre aos palestinos e à luta pelos direitos humanos mundo afora. Apaixonado por fotografia e fã ferroviário, mantém o blog Ferrovias do Brasil, além de uma galeria online com seu trabalho e uma página no Twitter.

Falando às vésperas de viajar para Atenas - onde é o único “artivista” brasileiro presente ao Resistance Festival -, Latuff concedeu entrevista a Niara de Oliveira.
Confira alguns trechos:
[...]
O desenho sempre esteve presente?
Sim, sempre. Gostava de desenhar até em embalagem de cigarro e caixa de remédio, pasta de dente. Alguns destes desenhos tenho até hoje. Gostava também de revistas para colorir e gibis.
[…]
Onde o ativismo te encontrou?
Só foi me encontrar lá pelo final dos anos 90. Por volta de 1996, quando assisti na TV um documentário sobre os zapatistas. Mesmo tendo iniciado minha carreira na imprensa sindical de esquerda (onde trabalho até hoje, com muito orgulho), até então não me sentia ou agia como militante de qualquer espécie. Achava inclusive que convicções políticas e profissão eram coisas que poderiam ser separadas.
[…]
O teu ativismo exerces todo através do desenho ou tem outras formas?
Tento me colocar publicamente através de minhas charges, escritos, opiniões, palestras, vídeos, fotos, porque acredito que omitir-se não é opção.

Como foi ou onde foi que decidiste ir ao Oriente Médio?
Ao fazer uma charge sobre a violência dos colonos judeus contra palestinos e enviá-la ao Palestinian Center for Peace and Democracy, em Ramallah, surgiu o convite deles para visitar a Palestina e conhecer o drama daquele povo de perto. Foi uma viagem iniciática, nunca se volta o mesmo de uma coisa assim. Isso foi em 1999.

O ativismo pró-palestinos ocupa quanto do teu tempo e trabalho hoje?
Pra falar a verdade, passo a maior parte do tempo desenhando para a imprensa sindical sobre diversos assuntos. A questão é que a causa palestina me emociona muito, minha relação com aquele povo é mais passional, assim como também é passional a forma como desenho sobre a violência da polícia carioca.
[…]
Sempre percebi que o combustível dos ativistas são causas justas e utópicas, quase impossíveis. Tu tens esperança de ver a Palestina livre ou pelo menos Gaza desbloqueada?
Essa é a pergunta de um milhão de dólares para qual não tenho resposta. Tudo o que posso dizer é que enquanto viver estarei do lado do povo palestino para o que der e vier.

Sendo o conflito da Palestina geopolítico, qual é a solução? O que pra ti é a solução, já que a convivência pacífica entre judeus e palestinos hoje parece tão improvável?
A solução é fazer justiça aos palestinos que tiveram suas terras tomadas na mão-grande, com o beneplácito das superpotências e da ONU. Fazer justiça aos tantos refugiados impedidos de voltar a sua terra natal, sendo obrigados a viver em favelas como as que vi na Jordânia e no Líbano. É reconhecer o direito do povo palestino à soberania.
[...]
Como tu achas que essa emergência do Brasil na mediação de conflitos internacionais pode ajudar a Palestina?
Parece que os Estados Unidos têm a primazia, quando o assunto é Oriente Médio. Nem mesmo as opiniões da Liga Árabe ou da ONU contam, quando o assunto é Israel-Palestina. Ninguém tem coragem de melindrar Washington. Pelo menos, até agora. O acordo entre Brasil, Turquia e Irã pode ser o início de uma quebra de paradigma.
[…]
Sempre que se reclama dessa democracia, vem alguém lembrar do tempo em que não a tínhamos e que muitos morreram para que pudéssemos votar, e etc. Como vês a transição da ditadura para o que temos agora (já que não consideras como democracia)?
Duvido que os guerrilheiros do Araguaia ou da guerrilha urbana tivessem sacrificado suas vidas pra gente poder apertar botão na urna eletrônica e eleger gente como Sarney ou Maluf. Definitivamente, não foi pra isso que muitos tombaram enfrentando a ditadura. Mudança pra valer é, por exemplo, combater o latifúndio, e não importa o quanto você vote. Não são políticos que o farão, até porque muitos deles são latifundiários. Existe governo e existe poder. Troca de governo se dá com eleição. Troca de poder se dá com revolução. Um bom mote para se Twittar. […]
Logo após essa entrevista, houve outra coletiva, via Twitter.
Um pouco mais de sua vida, ideias e trabalho - em Outras Palavras.
Cartuns do Latuff, expostos aqui, foram pescados com uma googlada.

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