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8.6.10

Não se deve aceitar recuos de proteção e redistribuição social - Alain Touraine

Em continuidade ao debate sobre “A crise da zona do euro e o retorno do Estado regulador”, a revista do Instituto Humanitas Unisinos (IHU On-Line), edição 332, publica entrevista com o sociólogo francês Alain Touraine*.

Como destaca IHU On-Line: Touraine aponta que os movimentos sociais estão em crise e têm “cada vez menos expressão política”. De outro lado, surgem “movimentos culturais, como a ecologia política, o feminismo, a defesa das minorias, que devem poder encontrar novas expressões na política e na mídia”. E acerca do desmantelamento do estado de bem-estar social na zona do euro, Touraine é categórico: “Não se deve, em nenhum caso, aceitar um recuo da proteção e da redistribuição social, uma vez que, em escala mundial, as desigualdades aumentaram”.

Eis alguns trechos desta entrevista concedida à IHU On-Line:
[...]
Quais são as principais necessidades do ser humano moderno e por que a chamada organização dos mercados e do capitalismo não atende a essas necessidades? Que alternativa o senhor vislumbra no sentido de suprir essa carência humana?
Alain Touraine - Face à dominação da economia globalizada, não se pode mais encontrar, no interior da sociedade, forças de resistência. Nem os partidos, nem as crenças, nem as classes sociais têm, hoje em dia, a possibilidade de armar os descontentamentos e as recusas que correm o risco de se esgotar em ações negativas.
[...]
Se considerarmos, como dizem alguns autores, que "Estado" e "mercado" foram dois meios de opressão nos últimos 100 anos, o que podemos esperar para o futuro?
Alain Touraine - Os que consideram o Estado e o mercado como dois meios de opressão se colocam numa situação irreal. Não há sistema econômico que funcione sem mercado e sem Estado. Opostamente, é indispensável que existam movimentos de base que apelem às necessidades mais reais contra as especulações mais abstratas. Aquilo de que provavelmente tenhamos mais necessidade é de aprender a combinar o mercado e o Estado após um período absurdo que queria dar tudo ao mercado.

Considerando um possível desmantelamento do estado de bem-estar social na zona do euro, quais elementos da sociedade sofrerão as piores consequências?
Alain Touraine - Os países europeus e outros têm a escolha entre duas políticas face ao déficit do estado de bem-estar social. A primeira é de diminuir os fornecimentos e as garantias, o que parece uma provocação, uma vez que a parte do trabalho na renda nacional baixou, e a outra solução consiste em mudar a concepção sobre a proteção social. O estado de bem-estar social foi concebido como realidade sendo financiada e como servindo os trabalhadores, incluindo suas empresas. É preciso, agora, considerar que o conjunto dos rendimentos, os do capital ainda mais do que os do trabalho, devem participar na manutenção da proteção social. Também é preciso, com total urgência, responder a novos riscos e a novas demandas. Pensa-se, em particular, nos problemas acrescidos pela longevidade cada vez maior da vida humana. A dependência sob todas as suas formas e o aumento das doenças, como certos cânceres junto às pessoas idosas, criam problemas urgentes, mas sabe-se bem, hoje em dia, que as novas formas de trabalho e, principalmente, as novas políticas das empresas criavam novos riscos para os trabalhadores. No caso francês, a opinião pública foi golpeada pelas ondas de suicídio que se produziram nas empresas, embora modernas e mais públicas. Não se deve, em nenhum caso, aceitar um recuo da proteção e da redistribuição social, uma vez que, em escala mundial, as desigualdades aumentaram.

Por que o senhor afirma que os movimentos sociais vivem uma crise? Como eles têm reagido, na Europa e sobretudo na França, à crise econômica?
Alain Touraine - O que se chamou de movimentos sociais foi definido em termos que correspondem às sociedades industriais. Antes de seu desenvolvimento, conheceram-se, principalmente, movimentos políticos. Hoje, esses movimentos sociais têm cada vez menos expressão política, mas vê-se surgir movimentos culturais, como a ecologia política, o feminismo, a defesa das minorias, que devem poder encontrar novas expressões na política e na mídia.
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*Alain Touraine tornou-se conhecido por ter sido o pai da expressão “sociedade pós-industrial”, a qual, longe de acabar com os conflitos, generaliza-os. Ele acredita que a sociedade molda o seu futuro através de mecanismos estruturais e das suas próprias lutas sociais. O ponto de interesse vital da sua carreira tem sido o estudo dos movimentos sociais. Touraine é autor de A sociedade pós-industrial (Lisboa: Moraes, 1970), O mundo das mulheres (Petrópolis: Vozes, 2006), Um novo paradigma para compreender o mundo de hoje (Petrópolis: Vozes, 2006), entre outras obras.

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