Um dos filmes brasileiros mais polêmico dos últimos anos, ganhador do prêmio do público de melhor filme brasileiro na Mostra de São Paulo de 2002 – Cama de Gato – dirigido por Alexandre Stockler, tem cenas fortes/chocantes, como a de um estupro, filmado com bastante realismo.
O longa-metragem demonstra uma noite na vida de três amigos inseparáveis Cristiano (Caio Blat), Francisco (Rodrigo Bolzan) e Gabriel (Cainan Baladez). Os três garotos mimados cursaram o ensino médio em uma das escolas particulares mais conceituadas da cidade de São Paulo e comemoram a entrada na universidade. Todos filhos da classe média abastada - ou melhor, “bastarda”, como eles próprios dizem - que decidem curtir além da conta.
Eles se envolvem numa espiral de violência que só tende a aumentar pela completa incapacidade do trio em controlar seus atos. Cristiano recebe a visita de uma colega, com quem planeja se divertir, sem que ela saiba que seus dois amigos permanecerão escondidos e se apresentarão para um “ménage” quando ela menos esperar. Mas a moça não concorda e acaba sendo estuprada pelos rapazes. Eles perdem o controle da situação e, ao final, percebem que ela está inconsciente. Tudo isso já seria criminoso o bastante não fosse pelo fato de matarem acidentalmente a mãe de Cristiano. Com dois corpos em casa, os três jovens se culpam pelo ocorrido e tentam encontrar uma saída para a situação. Eles querem se livrar dos corpos, apagar todos os vestígios que os liguem aos crimes, e ainda encontrar um tempinho para ir a uma festa.
Assim rola a noite de horrores do trio, na qual o limite entre diversão e complicação torna-se bastante tênue. A diversão confunde-se com a violência, assim como a preocupação de se estabelecer na sociedade confunde-se com a tragédia humana: na tentativa de se divertirem a “qualquer custo”, vão cometendo e tentando encobrir os crimes. A situação se transforma em uma bola de neve e, naturalmente, sai de controle - se é que haveria algum desde o início. Quanto mais eles tentam resolver os problemas que criaram, mais eles se complicam, buscando as soluções que soam mais implausíveis do mundo.
Mas é nesse ponto que entra o componente mais interessante do filme. O desenrolar da história, as soluções, foram construídas em cima de depoimentos coletados pelo diretor Stockler e sua equipe. Jovens da mesma idade dos protagonistas, flagrados em baladas, ditam os atos dos personagens do filme. Esses depoimentos, apresentados na abertura e no encerramento, mostram que a realidade, muitas vezes, é mais assustadora que a ficção.
Com um desfecho cínico e banal, o filme Cama de Gato é muito atual e parece revelar que seus protagonistas são jovens ricos e mimados e que, no fim, tudo podem. (Título original: Cama de Gato. Direção e roteiro:Alexandre Stockler. Gênero: Drama. Duração: 1h32min. Ano de lançamento: 2002. Estúdio: Prodigo Filme. Produção: Murilo Azevedo e Charly Spinelli. Cf. InterFilmes. Terra - Cinema. FolhaOnline - Reuters.)
Lembrei desse filme, após ler e ver a notícia sobre o caso do crime de estupro, praticado por três adolescentes de famílias abastadas de Florianópolis/SC.
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