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28.7.10

“Ciência em ebulição”: Biossegurança e Transgênicos

A 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Natal, no campus da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), entre as novidades anunciadas, conta com a sessão “Ciência em ebulição”. Uma dinâmica de debates envolvendo dois cientistas com opiniões antagônicas sobre um determinado tema. E o primeiro tema da série, foi “Biossegurança e Transgênicos”, debatido por Edilson Paiva, presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), e Rubens O. Nodari, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Roberto Germano Costa, do Instituto Nacional do Semi-Árido (INSA), foi o moderador. Até sexta-feira, serão discutidas em sessões no mesmo formato mais duas temáticas:  estabelecimento de cotas nas universidades e mudanças climáticas.

“Ciência em Ebulição” estreia com debate quente
(Daniela Oliveira, do Jornal da Ciência)
A estreia da atividade “Ciência em ebulição” na Reunião Anual colocou em confronto dois especialistas em biossegurança, com posições opostas. O presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Edilson Paiva, e o professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Rubens Nodari apresentaram, durante sessão realizada na tarde desta segunda (26-7), argumentos favoráveis e contrários à liberação de alimentos transgênicos no país.

Para Edilson Paiva, primeiro a apresentar suas argumentações, o Brasil já está atrasado no que se refere à adoção de alimentos geneticamente modificados. O aumento da produtividade garantido pela tecnologia de transformação genética pode, a seu ver, garantir a segurança alimentar do país. "Estamos atrasados 10 anos em relação a outros países. Não podemos mais esperar uma situação de meio ambiente degradado e insegurança alimentar", disse.

Já o pesquisador da UFSC Rubens Nodari deixou claro que sua posição não é contrária à tecnologia, mas sim ao modo como os produtos geneticamente modificados têm sido aprovados pela CTNBio. Segundo ele, a comissão não tem respeitado as exigências para liberação de transgênicos e não tem adotado o princípio da precaução, que na sua avaliação é a base da ciência.

Para Paiva, no entanto, a exigência de comprovação de risco zero e segurança absoluta é incompatível com a atividade científico-tecnológica. "Transformam o princípio da precaução no princípio da obstrução. Na dúvida, faça nada", argumentou o agrônomo. Em resposta, Nodari rebateu: "Na dúvida, temos que usar a ciência para conhecer os riscos. A decisão para a dúvida deve ser mais ciência."

Com relações aos riscos ambientais, Nodari destacou que o desenvolvimento de sementes transgênicas mais resistentes a herbicidas aumenta o risco de envenenamento alimentar e ambiental. Os cruzamentos sucessivos e as possíveis contaminações, explicou o pesquisador, podem prejudicar o desenvolvimento de inovações e melhoramentos e afetar a diversidade genética das espécies.

Além disso, na avaliação do professor da UFSC, a CTNBio se nega a considerar os possíveis danos à saúde humana causados pelo aumento da utilização do herbicida glifosato nas lavouras transgênicas. Edilson Paiva rebateu a acusação e afirmou que a tecnologia transgênica, ao contrário, diminui a necessidade de aplicações de herbicida.

Com a lavoura convencional, explicou o agrônomo, o agricultor necessita usar uma combinação de produtos e ampliar o número de aplicações. Já com a nova tecnologia, seria necessária apenas uma aplicação de glifosato. "Com essa tecnologia, demos flexibilidade e segurança. Ele [o agricultor] está adotando essa tecnologia não porque dá mais dinheiro, é porque diminui risco, custo, movimentação de máquinas. Não existe agricultor na face da terra que não vá querer usar esse tipo de tecnologia", garantiu.

O presidente da CTNBio criticou ainda o fato de os argumentos contrários aos transgênicos sejam utilizados apenas quando se tratam de alimentos - e não no que se refere, por exemplo, a fármacos desenvolvidos com organismos geneticamente modificados.

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