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26.7.10

Direitos Humanos na literatura do século XVIII

A invenção dos direitos humanos: uma história (Cia das Letras, 2009) é um livro da historiadora e professora estadunidense, Lynn Hunt. No qual ela revela que “a história dos direitos humanos, a despeito de seus momentos obscuros, sangrentos ou pouco honrosos, é uma bela e fascinante saga”. E “com minúcia investigativa e fôlego literário, a autora entrelaça filosofia, crônica política e história do cotidiano para dar contra desse processo complexo e multifacetado”.

Partindo da literatura do século XVIII, no primeiro capítulo desta obra, Lynn Hunt expõe como a leitura de romances foi colaborando com o aprendizado de valores relacionados aos direitos humanos. Em outras palavras, ela argumenta que experiências, como ler romances epistolares da época, ajudaram a difundir as práticas da autonomia e da empatia; as quais, por sua vez, serviram de fundamento para os direitos humanos.

Explica Hunt que romances epistolares geravam, especificamente, uma “empatia imaginada” (“de imaginar que alguma outra pessoa é como você”) o que provocava novas sensações sobre o eu interior. Nesse sentido, ela explica que a experiência de ler tais romances teve efeitos físicos que se traduziram em mudanças cerebrais e tornaram a sair do cérebro como novos conceitos sobre a organização da vida social e política. Esses novos tipos de leitura criaram novas experiências individuais (empatia), que por sua vez tornaram possíveis novos conceitos sociais e políticos (os direitos humanos).

Com o propósito de demonstrar essa sua tese, Hunt concentra-se sobre três romances epistolares especialmente influentes do século XVIII: Júlia ou A nova Heloísa (1761), de Jean-Jaques Rousseau; e dois romances de seu predecessor inglês e modelo confesso, Samuel Richardson: Pamela (1740) e Clarissa (1747-8). Hunt justifica que se decidiu concentrar em Júlia, Pamela e Clarissa, três romances escritos por homens e centrados em heroínas, por causa de seu indiscutível impacto cultural. Afinal, apesar de não produzirem sozinhos as mudanças na empatia, um exame mais detalhado da recepção de cada romance mostra um novo aprendizado da empatia em ação.

Dessa maneira, consciente que a leitura de romances não era na época (nem seja agora) comum entre todas as pessoas, Hunt, nas primeiras páginas desta sua obra, vai desemaranhar como se realizou esse processo: de muitos romances terem levado os leitores a se identificar e sentir empatia pelos personagens, apresentando a idéia de que todas as pessoas são fundamentalmente semelhantes por causa de seus sentimentos íntimos, e mostrando em particular o desejo de autonomia. Enfim, por meio de um envolvimento apaixonado com a narrativa, como a experiência desse tipo de leitura veio a desenvolver um certo senso de igualdade e empatia.

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. Tradução Rosaura Eichenberg. Cia das Letras, 2009.

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