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26.5.11

“A irracionalidade transforma-se em razão”

A articulação da racionalização capitalista com a racionalização científica potencializa a racionalidade tecnológica e a dominação social e ambiental. O grande e complexo problema disso é que, ao contrário do que se teoriza, não se soluciona tampouco se ameniza – mas, sim, aumenta viciosamente – os impactos das irracionalidades, externalidades, deste sistema racional-capitalista-científico, como já explicou Enrique Leff:

A racionalidade capitalista tem estado associada a uma racionalidade científica que incrementa a capacidade de controle social sobre a realidade, e a uma racionalidade tecnológica que assegura uma eficácia crescente entre meios e fins.
A problemática ambiental questiona a legitimidade da racionalidade social construída sobre as bases de uma racionalidade científica entendida como o instrumento mais elevado de racionalidade, capaz de resolver, a partir de seu crescente poder de predizer, as irracionalidades ou externalidades do sistema.
[...] há o caráter relativo e inclusive oposto de ambas as racionalidades, pois como aponta Marcuse, ‘no desenvolvimento da racionalidade capitalista, a irracionalidade se transforma em razão: razão como desenvolvimento desenfreado da produtividade, conquista da natureza, ampliação da massa de bens, mas irracional, porque o incremento da produtividade, do domínio da natureza e da riqueza social se transformam em forças destrutivas’.
As externalidades da racionalidade capitalista (superexploração dos recursos naturais e da força de trabalho, degradação ambiental, deterioração da qualidade de vida) de problemas marginais (embora funcionais) para o sistema econômico foram adquirindo em seu processo acumulativo e expansivo do capital um caráter crítico para seu crescimento. (LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. São Paulo: Cortez, 2001. p. 128)

A partir desse pequeno trecho da tese de Leff (sem prejuízo de tantas outras reflexões), entendo que se pode pensar um pouco a racionalidade capitalista acerca do meio ambiente no Brasil. Notadamente, as duas que estão (im)postas na pauta da política nacional: o projeto da Hidrelétrica de Belo Monte e o projeto do novo Código Florestal. Em ambos a irracionalidade transforma-se em razão.

Em outras palavras, resumidamente, penso ser isto o que se desvela das vozes de alguns “especialistas”, ecoadas pela mídia-monopolista: a continua irracionalmente - que subjuga culturas e saberes originários ao mesmo tempo que superexplora e degrada o patrimônio natural brasileiro - tem sido transformada em razão, por meio da racionalidade científico-capitalista voltada para a falácia do alegado crescimento econômico desenvolvimentista.
É isso! Gilnei

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