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15.6.12

Washington Novaes: “a questão ambiental de forma integrada e abrangente”



Na primeira de uma série de entrevistas especiais sobre mídia e meio ambiente, o Observatório da Imprensa, exibido pela TV Brasil, veiculou (12/6/12) a conversa de Alberto Dines com Washington Novaes*, um dos maiores nomes do jornalismo ambiental no país.

“Costumo dizer que eu não me considero um jornalista especializado em meio ambiente. Eu sou jornalista, como sou há 55 anos. Agora, tenho uma história de vida e de profissão que me levou a um interesse cada vez maior por isso”, lembrou Novaes - explicando que é preciso treinar o olhar para ver a questão ambiental de forma integrada e abrangente.

E concluiu que, em meio a uma enorme quantidade de informações: “nós precisamos estar conscientes de que, como diz um antropólogo basco, as grandes cidades começam por nos roubar o essencial, que é a visão de nossa própria sombra e o ruído de nossos próprios passos.”

Vale conferir esta entrevista na qual Washington falou sobre o papel da imprensa, o crescimento das cidades, o desafio da sustentabilidade e as expectativas para a Rio+20.

Meio ambiente: a mídia (ainda) de olhos fechados 
Novaes pontuou que a mídia habituou-se, durante muito tempo,  a encarar “as questões sobre o meio ambiente como coisa de hippies ou de profetas do apocalipse. Em outros casos,  “fazia de conta ” que ecologia não tinha “nada a ver” com política, economia e cultura. “O tempo vem mostrando, com cada vez mais intensidade, que é praticamente impossível discutir qualquer assunto sem entrar por esses terrenos porque tudo o que o ser humano faz tem impacto sobre o mundo físico, sobre o solo, sobre o ar que respiramos, sobre os recursos naturais e as outras espécies. Mas, a mídia teme as repercussões que isso pode ter sobre ela mesma, se ela tratar muito a fundo dessas questões”. O problema é que isso atinge interesses poderosos e a mídia fica com medo de ferir esses interesses. Então tudo isso se torna bastante complicado, disse Novaes.

Questão integrada 
“A comunicação tem que dar uma sequência no debate sobre o meio ambiente e não ficar cobrindo apenas fatos episódicos. Não pode ser assim.”. Esta a falta de continuidade da imprensa sobre as questões ambientais também foi criticada por Novaes. Quando há algum fato que tem impacto, a mídia noticia. Depois, esquece completamente do assunto. “Por exemplo: quem está tratando das consequências dos desastres climáticos na região serrana do Rio de Janeiro depois de um ano? Quem está indo lá ver o que aconteceu e o que está sendo feito para resolver?”, questionou Novaes. Como não há cobrança, problemas estruturais como habitação nas encostas e nas margens dos rios não são combatidos.

Só indignação não basta 
De acordo com a avaliação de Novaes, a mídia digital tem uma grande influência no debate sobre a questão ambiental, mas é “caótica”. “A sociedade não pode ficar em uma retórica da indignação. Ela fica muito indignada com tudo, mas não faz nada, não acontece nada. Eu acho que a sociedade precisa se organizar em grupos, discutir os assuntos. Chamar para discutir os assuntos quem pode ajudá-la – o Ministério Público, um instituto de consumidor, do meio ambiente – e formular projetos políticos.”

Agenda limitada 
Washington Novaes ponderou que, mesmo limitados, os encontros sobre o desenvolvimento sustentável são importantes para colocar a questão ambiental no centro das discussões. “A consciência social no Brasil e no mundo tem crescido muito em torno dessas questões e precisa, quer e exige isso. Mas, ao mesmo tempo, é muito difícil chegar a acordos porque os acordos têm que ser planetários”, explicou Novaes. As diferentes propostas das nações e os interesses econômicos envolvidos acabam dificultando as negociações. No entanto, na opinião de Novaes, é necessário discutir o tema com mais frequência porque os diagnósticos sobre os impactos das mudanças climáticas no planeta são preocupantes.

*Washington Novaes é bacharel em Direito pela USP. Nas últimas cinco décadas, foi repórter, editor, diretor e colunista em diversas publicações impressas e televisionadas. Dirigiu documentários premiados internacionalmente sobre povos indígenas e meio ambiente. Foi secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia do Governo do DF nos anos 1990. Tem vários livros publicados e foi consultor do “Primeiro Relatório Brasileiro para a Convenção da Diversidade Biológica”, da ONU. Atualmente é colunista dos jornais O Estado de S.Paulo e O Popular, também é consultor de jornalismo da TV Cultura, documentarista e produtor independente de televisão.