Os deuses reuniram-se num acampamento nos arredores da cidade. Zeus fez um de seus costumeiros discursos arrastados e tediosos. Em suma: era necessário dissolver a organização; já bastava de conspirações ridículas; era tempo de entrar na sociedade racional e de alguma maneira se ajeitar. Atena choramingava num canto. É importante destacar que os últimos rendimentos foram divididos de forma equânime.
Poseidon estava otimista. Bramiu, afoito, que para ele estava tudo muito bem. A pior situação era a dos guardiões dos rios regulados e florestas derrubadas por madeireiras. Em segredo, todos contavam com os sonhos, mas ninguém queria tocar no assunto.
Nenhuma conclusão foi tirada. Hermes se absteve na votação. Atena choramingava num canto.
Noite alta, voltaram para a cidade, com documentos falsos nos bolsos e um punhado de moedas de cobre. Quando atravessaram uma ponte, Hermes jogou-se dentro do rio. Os outros o viram se afogando, mas ninguém tentou salvá-lo.
As opiniões se dividiram quanto à questão de saber se aquilo era um mau agouro ou, pelo contrário, um bom sinal. Fosse como fosse, era o ponto de partida para alguma coisa nova, ainda não definida.
(Zbigniew Herbert, poeta/escritor polonês. 1924-1998)
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