Páginas

13.4.10

Concentração privada de capital

A revista Caros Amigos, nº 156, de março/2010, traz reportagem intitulada “Odebrecht é promovida a gigante petroquímica da América Latina”, assinada pela jornalista Lúcia Rodrigues, na qual aborda o acordo firmado entre Petrobras e Grupo Odebrecht para a aquisição da Quattor pela Braskem.

E aponta que o sinal verde para a efetivação da BRK, nome da nova empresa, deve ser dado pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) ainda neste semestre; confirmando que a estratégia definida pelo governo federal de fortalecimento de grupos empresariais nacionais (para atuarem no capitalismo mundial) está direcionando a economia brasileira para a formação de monopólios e oligopólios privados em vários setores.

Acerca do assunto, a reportagem traz opiniões interessantes, como a do professor de economia da Unicamp Wilson Cano e do professor de sociologia da Unifesp Carlos Bello.
Eis alguns trechos:

Para o professor de economia da Unicamp Wilson Cano, o processo de concentração do capital que está ocorrendo no Brasil faz parte da lógica do capitalismo. “Marx explica isso em O Capital. O mais forte absorve o mais fraco.” O docente, que tem livre docência na área de concentração industrial, explica que esse tipo de atividade não admite pequenos. “A indústria química necessita de escala”, ressalta.

Cano afirma que o financiamento de grupos privados pelo Estado é uma rotina na história brasileira. A indústria petroquímica começou na década de 70 e foi financiada pelo modelo tripartite (capitais estatal, privado nacional e internacional). “Vivemos quase que uma réplica desse período, com a diferença que agora não há o capital internacional.”

Ele conta que os bancos privados brasileiros não querem emprestar dinheiro a longo prazo. “O longo prazo causa alergia no sistema bancário brasileiro”, alfineta. O Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) acaba tomando, na maioria dos casos, para si a tarefa de agir como agente financiador do capital privado.

“Isso sempre aconteceu e continua acontecendo. Como o Gerdau está comprando coisas lá fora? Com o dinheiro do Bndes. Como a Friboi está comprando coisas lá fora? Com o dinheiro do Bndes. Como o Steinbruck compra coisas lá fora? Com dinheiro do Bndes. E o Antonio Ermírio de Moraes? A mesma coisa.”

O banco de desenvolvimento participou do processo de fusão entre as empresas de telefonia Oi e BrT (Brasil Telecom), com um aporte de R$ 2,57 bilhões. Na operação de fusão entre a Aracruz e a Votorantim, que consolidou a Fibria, como gigante da área de celulose, o braço de participações do banco, Bndespar, entrou com R$ 2,4 bilhões. O Bndes também apoiou com R$ 3,48 bilhões o processo de incorporação da Bertin e Pilgrim´s Pride, pela JBS, gigante do setor de carnes industrializadas e in natura.
[...] o professor da Unicamp considera que o processo de desenvolvimento levado a cabo pelo governo só fortalece os empresários.

Para Cano, “essa visão não tem nada a ver com a questão social brasileira, com distribuição de renda, de emprego. Acreditam que ajudando a constituir empresas de grande porte, elas poderão brigar lá fora (no exterior)”, lamenta. “O capital privado não entra sozinho para roer o osso, só entra onde tem carne. Se não tiver carne, não entra. Sempre foi assim. Capitalismo é isso”.

Ele não acredita em uma guinada estatizante por parte do governo Lula. “O governo age dessa forma porque não é um governo socialista. Não pretende nacionalizar nenhum setor. Acredita na política de fortalecimento das empresas privadas nacionais” [...].

Os temores de Cano [...] são compartilhados pelo professor de sociologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Carlos Bello. O docente, que é especialista em Cade e já publicou um livro que debate o peso desempenhado pelo poder público para barrar a formação de monopólios, considera o processo de fusão entre as duas empresas como certo. “Não tenho dúvida nenhuma de que isso vai acontecer.” Ele enfatiza que o processo de fusão “é bom para a empresa privada (Odebrecht)”.

Para ler a reportagem completa, confira a edição impressa da revista Caros Amigos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário