Recentemente a Quattor Petroquímica foi adquirida pela Braskem, controlada pelo Grupo Odebrecht. Com tal negociação, aponta-se que a Braskem consolida-se como a maior empresa petroquímica da América Latina; bem como a 11ª produtora de petroquímicos do mundo, segundo a MaxiQuim.
Mas, o que deve chamar mais atenção é que essa incorporação da Quattor Petroquímica pelo Grupo Odebrecht/Braskem conta com o envolvimento direto da Petrobras, assim como com o apoio do Estado e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao capital privado, notadamente, ao Grupo Odebrecht.
Em entrevista, concedida para o IHU - Instituto Humanitas Unisinos, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas de Triunfo (Sindipolo), Carlos Eitor Rodrigues Machado alerta para os prejuízos que esse empreendimento irá gerar e lamenta a participação do governo neste projeto: “O governo está consolidando a entrega do setor para uma única empresa, para a Odebrecht que controla a Braskem, sem considerar todas as consequências que isso tem sobre o setor petroquímico, sem levar em conta o impacto desse monopólio sobre o consumidor, sobre o mercado, e principalmente, se omitindo com relação aos prejuízos que essa empresa tem imposto aos trabalhadores”.
Eis alguns trechos da entrevista de Carlos Machado ao IHU:
Quem paga a conta
“A Petrobras já investiu, com seu retorno a petroquímica, 7,6 bilhões de dólares, correspondente à 13,7 bilhões de reais, para favorecer o grupo Odebrecht.”
“Eles agora irão fazer uma reestruturação do capital da Braskem, onde a Odebrecht irá aportar um bilhão de reais, e a Petrobras irá aportar 2,5 bilhões. Que parceria é essa?”
“Quem está pagando a conta de tudo é a Petrobras, diretamente, e a sociedade como um todo, indiretamente. Aí entra a questão do BNDES, considerando que a maioria dos recursos que o BNDES tem disponível em caixa é dinheiro do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador, que objetiva investir em projetos que tenham um compromisso com a geração de riqueza e emprego. O BNDES faz isso aí, sem garantia alguma. Veja bem, o governo entra com a maior parte do recurso e o recurso que a Braskem entra é financiado pelo BNDES.”
Nada de regulação
“A Petrobras não irá regular mercado [petroquímico].”
“O governo deveria estar regulando, mas não está. Inclusive se a questão do governo fosse levada a serio, o CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] seria o primeiro a barrar este tipo de negociação. Quem acaba dando as cartas para o jogo é o grupo Odebrecht.”
Monopólio
“No Brasil temos dois segmentos que são praticamente monopolizados: o setor do aço e o do cimento. O que resta para o pessoal da construção civil? Acontece que quem quer construir só tem uma alternativa, que é comprar o aço da Gerdau, assim como o cimento da Votoran, e pagar o preço que eles cobrarem. No caso do monopólio da petroquímica é a mesma coisa. O setor petroquímico e o plástico são produzidos a um custo muito baixo, o valor maior é o que é tirado como lucro para as empresas. O que vai acontecer é que irão potencializar ao máximo o faturamento, e todos os produtos oriundos desses setores seguramente terão uma elevação do preço, comparando com outros produtos nacionais que não são monopolizados. Na questão do emprego isso refletirá nas empresas de transformação, em todas as fases da cadeia petroquímica, e principalmente na renda. Hoje um operador petroquímico só tem emprego na Braskem, no Brasil inteiro. E se isso acontece, essa empresa irá pagar a ele o que ela bem entender.”
Ameaça aos direitos trabalhistas e novas demissões
“Em 2008, a Braskem intensificou as demissões e em 2010 está vindo para cima com tudo. Só em 2009, foram demitidas em torno de 300 pessoas. O próprio presidente da Braskem disse que enxerga como natural essas demissões.”
“Em várias oportunidades a empresa tentou tirar alguns direitos do acordo coletivo, alguns estão na justiça e outros estão nebulosos. O que acontece é que a negociação salarial, que está trancada agora, está trancada porque quer tirar vários direitos do acordo coletivo. Para a Braskem não existe margem para a negociação, o que existe, eventualmente, é fazer fortes movimentos com disposição pública, da Braskem e do governo, que dão certa atenuada nas suas ofensivas. Contra a Braskem, daqui para frente, teremos uma luta constante de tentar segurar o que temos e impedir demissões.”
Confira a entrevista completa com Carlos Eitor Machado no portal do IHU.
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